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Pausa para o café: do blending ao branding

20 de abril 2017 | , | Eduardo Shor

Reading Time: 4 minutes

A primeira atitude de muitas pessoas quando começam um novo trabalho é descobrir onde fica a máquina de café do escritório. Se uma xícara é suficiente para dar aquele ânimo no fim da tarde, desde o século XIX o famoso grão ajuda a impulsionar a economia brasileira. Hoje, nosso “ouro negro” responde por 30% do mercado internacional e é um dos símbolos do país – maior produtor do mundo. Mas café não é só economia, café é história.

No imaginário coletivo, café é um ícone. Pode ser comparado ao que no storytelling chamamos de artefato, um objeto com poderes especiais. Algo que serve para desencadear sensações, lembranças e ações do personagem. No clássico “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, são as madeleines que fazem esse papel. Os tradicionais bolinhos franceses, entre goles de chá, despertam no protagonista do romance suas memórias de infância.

Objetos como as madeleines compõem universos ficcionais. Eles usam o poder de persuasão das histórias para conferir uma aura elevada a itens comuns, que continuariam comuns sem o apoio de uma narrativa. Quanto não se deve ter vendido mais de espinafre no mundo todo por causa do Popeye?

A história real também está repleta desses ícones. A França tem vinhos que sustentam boa parte do seu turismo. Quando um objeto é extremamente identificado com a marca, ele se torna uma forma de divulgação não invasiva, que faz parte do dia a dia das pessoas muito naturalmente. O vinho francês gera histórias relacionadas à França, promove experiências e alcança lugares da “alma” do consumidor que com certeza uma campanha publicitária de turismo jamais alcançaria.

No exterior, o café é um dos ícones mais associados à “marca” Brasil. O grão levou São Paulo de nono município do país, em 1872, até a posição de referência econômica nacional. Construiu uma narrativa que virou um roteiro na capital paulista, abrindo espaço para joias da arquitetura e da arte reconhecidas até hoje. Tomar um café é um convite a um passeio pela história.

Conheça o roteiro, baseado em informações da SPTuris, empresa oficial de turismo e eventos da cidade de São Paulo:

 

1 – Palácio da Justiça

Projetado em 1911, inaugurado em 1933. Exemplo de construção da nova metrópole que se modernizava com a economia cafeeira. Hoje abriga exposições permanentes e temporárias mantidas pelo Museu do Tribunal de Justiça.

2 – Edifício Guinle

Pode ser considerado o primeiro prédio vertical do país. Construído entre 1913 e 1916, chegou a oito andares, numa época em que os edifícios vizinhos não passavam de três. A fachada apresenta ornamentação com motivos de ramos e frutos de café, remetendo à riqueza trazida pela economia cafeeira.

3 – Centro Cultural Banco do Brasil

Antiga sede do Banco em São Paulo, construída entre 1923 e 1927. Funciona hoje como espaço cultural. Sua fachada também apresenta adornos de ramos de café. Destaque para o cofre da antiga agência no subsolo do prédio.

4 – Largo do Café

Antigamente o café era comercializado aqui, numa espécie de bolsa informal, até 1914, com a instituição da Bolsa Oficial do Café, em Santos. Atualmente há bares e cafeterias no local para saborear um bom café.


5 – Edifício Martinelli

Quando inaugurado, em 1929, era o mais alto edifício do mundo fora dos EUA, condição que perdeu em 1936. Havia no local o Café Brandão, um dos mais marcantes da época. O projeto de 12 andares foi alterado pelo próprio empreendedor da obra, Giuseppe Martinelli, que tinha a meta de 30 andares e a atingiu ao construir sua mansão no topo do prédio, mostrando que confiava na segurança da construção.

6 – Estação da Luz
Com o crescimento da demanda do transporte ferroviário, foi necessário desenvolver um projeto de estação que comportasse o movimento de pessoas e cargas. A atual Estação da Luz foi inaugurada em 1901, com sua torre de 60 metros de altura.

7 – Parque da Luz

A mais antiga área verde da cidade, com mais de 100 mil metros quadrados. Aberto ao público em 1825, tem atrativos como gruta com cascata, aquário subterrâneo e quase 50 esculturas de artistas como Lasar Segall, Victor Brecheret, Leon Ferrari e Amílcar de Castro.

8 – Pinacoteca do Estado

O edifício começou a ser construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios – centro de formação de artesãos e mão de obra especializada para a metrópole que se desenvolvia com o dinheiro vindo da exportação do café. Inaugurado em 1905, também passou a abrigar a Pinacoteca do Estado, o primeiro museu de arte de São Paulo, que veio a ocupar a totalidade do prédio. São mais de 8 mil peças no acervo.

9 – Estação Pinacoteca

Em 1875 foi inaugurada a Estrada de Ferro Sorocabana, fruto da união entre barões do café e produtores de algodão para levar uma nova ferrovia para o interior do estado. Este edifício foi inaugurado em 1914 para abrigar os escritórios administrativos e o Armazém Central da ferrovia, além de funcionar como estação provisória até o início das operações na Estação Júlio Prestes, em 1930.

A construção é famosa por ter abrigado o Departamento de Ordem Política e Social – DOPS, principal órgão de investigação e repressão durante o regime da Ditadura Militar. Incorporado em 2004 pela Pinacoteca do Estado, expõe a Coleção Nemirovsky, um dos mais importantes acervos de arte moderna do país. No térreo, está o Memorial da Resistência de São Paulo, dedicado à preservação das memórias da resistência e da repressão política no Brasil.

10 – Estação Julio Prestes

Erguida para ser a definitiva estação da Estrada de Ferro Sorocabana. A antiga não comportava mais as necessidades da ferrovia na capital paulista, o que levou à nova construção de proporções monumentais. O edifício é luxuoso, tem detalhes em estilo Luis XVI e iniciou as atividades em 1938. Atualmente, além de ponto de partida dos trens da Linha Diamante da CPTM, abriga a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Desde 1999 o prédio também comporta uma das melhores salas de concerto do mundo, a Sala São Paulo.

11 – Vila dos Ingleses

Esta vila foi concebida para servir de moradia aos funcionários ingleses da ferrovia São Paulo Railway (Santos-Jundiaí), visando escoar a produção de café do interior paulista até o Porto de Santos. Construída a partir de 1917, com projeto inspirado nas vilas operárias de Londres. Atualmente funciona como um centro de atividades comerciais.

 

Foto: Acervo iconográfico/Casa da Imagem de São Paulo – Região da Luz no começo do século XX

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